Comunidade Quilombola Monte Alegre

A comunidade quilombola Monte Alegre, localizada no interior do município de Cachoeiro de Itapemirim, surgiu na segunda metade do século XIX, com o agrupamento de negros supostamente provenientes de Angola, na África. Estes negros foram escravizados em fazendas da região, como Boa Esperança, Barra do Mutum, São João da Mata e Monte Alegre.

Ao alcançarem a liberdade por força da "Lei Áurea", em 13 de maio de 1888, remanescentes desses negros adquiriram pequenas glebas da Fazenda Monte Alegre e assim fundaram o local que anos mais tarde passaria a ser denominada Comunidade Quilombola de Monte Alegre. As primeiras famílias a adquirirem terras foram Veridiano, Ventura e Oliveira, através de seus patriarcas Leonardo Veridiano da Silva, Marcelino Ventura, José Ventura e Manoel Sabino de Oliveira. 

Atualmente, a comunidade possui cerca de 700 quilombolas e os sobrenomes que prevalecem ainda são Veridiano, Ventura e Adão. A população local busca o seu desenvolvimento através do ecoturismo, do turismo étnico e da participação em projetos de inclusão social e geração de renda, mas a principal renda da comunidade ainda é extraída de serviços prestados a produtores rurais ligados ao cultivo de café, da pecuária de gado leiteiro e de corte.

Monte Alegre é bastante conhecida pela cultura que carrega e pela promoção dos elementos que fazem parte dela desde os seus primórdios. Entre eles, o Caxambu, uma dança popular de origem afro-brasileira praticada em Monte Alegre desde a sua fundação. A dança é embalada pelo jongo (versos cantados) e acompanhada por fortes batidas dos tambores até a madrugada, como uma maneira de expressar sentimentos, mesmo após um longo dia de trabalho.

Para a perpetuação do caxambu na comunidade, existem dois grupos desta tradicional dança que se apresentam em datas comemorativas e para visitantes. Um deles é composto por adultos e liderado por Maria Laurinda Adão e o outro é formado por crianças e coordenado pelo Grupo de Ecoturismo e Meio Ambiente Bicho do Mato.

A Comunidade Quilombola de Monte Alegre também realiza, em todo 13 de maio, a tradicional festa “Raiar da Liberdade”. O evento tem à frente a mestra de caxambu Maria Laurinda Adão – uma líder quilombola engajada com projetos sociais e militante em vários movimentos sociais. Aos 73 anos, Laurinda é considerada uma das mulheres vivas mais importantes para preservação das raízes e tradições do povo afrobrasileiro, percorrendo o Brasil e o mundo difundindo a cultura que aprendeu na comunidade de Monte Alegre.

Devido a pouca literatura disponível sobre as comunidades quilombolas brasileiras, a História Oral é um dos pontos fortes para a perpetuação da cultura de Monte Alegre, pois é através dela que novas gerações se conectam com seus ancestrais, tendo acesso a todo conhecimento desenvolvido ao longo de anos. O Pau da Mentira, como ficou conhecida uma comprida tora de madeira onde aconteciam as reuniões informais dos homens da região para a contação de causos, teve uma importante colaboração para que esses conhecimentos chegassem aos dias atuais. Nos dias de hoje, os líderes procuram resgatar, registrar e guardar todo o material disponível sobre a sua história antiga e atual, incluindo fotografias, jornais, revistas, artigos científicos e documentários.

O Ecoturismo também é uma das potencialidades de Monte Alegre. A Comunidade participa de um projeto do Governo Federal denominado “Projeto Ecológico do Corredor Central da Mata Atlântica”, desenvolvido em áreas públicas ou privadas através do plantio de mudas de espécies arbóreas nativas, visando à recomposição da Mata Atlântica. O Corredor Ecológico também possibilita a visita de grupos para atividades de ecoturismo, educação ambiental e pesquisa científica.

Situada em zona rural, a 37 quilômetros do centro do município de Cachoeiro de Itapemirim, Monte Alegre conta ainda com trilhas ecológicas e onde facilmente podem ser observadas diversas espécies de aves, borboletas, flores silvestres, plantas com propriedades medicinais, entre outros atrativos ecológicos.

A culinária local, também baseada na cultura afro-brasileira, tem como pratos principais o angu de banana verde e a feijoada – inicialmente criados de improviso devido às dificuldades econômicas e como alternativa de ter alimentos nutritivos à mesa.