ELIZETE SHERRING SIQUEIRA Ano 2011 – 7ª Edição
Da Amazônia ao Espírito Santo
Elizete Sherring Siqueira nasceu em Santarém, no Pará. Engenheira agrônoma pela antiga Escola de Agronomia da Amazônia, atualmente Universidade Federal Rural da Amazônia, chegou ao Espírito Santo em 1964 e logo foi trabalhar como engenheira agrônoma na Secretaria de Estado da Agricultura.
A gestora pública
Em 1965, começou sua carreira de técnica do Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo/BANDES, onde permaneceu até 1997 exercendo várias funções de gerência e de assessoramento técnico. Nesse período, foi responsável também pela criação do importante Programa Estadual Horto Florestal, uma parceria público-privada em áreas de recuperação, conservação e proteção da Mata Atlântica e de recuperação de recursos naturais renováveis no Espírito Santo. Graças à atuação de Elizete foram implantados 10 Hortos Florestais no Estado. Entre 1983 e 1987, ocupou os cargos de Subsecretária Estadual da Agricultura e, em seguida, o de Subsecretária de Estado do Planejamento, sempre mantendo o foco de sua atenção na preservação e defesa da natureza.
Na Secretaria de Agricultura atuou na coordenação de projetos relacionados à implementação de atividades agropecuárias, pesca e aqüicultura, desenvolvimento florestal e preservação, conservação e recuperação dos recursos naturais renováveis. Ao lado do Secretário Ricardo Santos, atuou ativamente na formulação e coordenação da política estadual fundiária, quando foram implantados os 15 primeiros projetos de Assentamentos de Trabalhadores Rurais Sem Terra no Estado, em articulação com o Plano Nacional de Reforma Agrária.
Como Subsecretária de Planejamento, dentre muitas outras ações, coordenou a elaboração e a captação de recursos junto ao Banco Mundial para o Projeto Mata Atlântica, tendo contribuído decisivamente para concretizar a Declaração, pela UNESCO, da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Espírito Santo.
O espírito ambientalista e a paixão pela Mata Atlântica de Elizete ficavam, dia após dia, mais evidentes e alimentaram, até os últimos momentos de sua vida, a ousadia e o entusiasmo com o qual se dedicava a tudo o que fazia.
Elizete foi colaboradora apaixonada e fiel do Mosteiro Zen Morro da Vargem em Ibiraçu. Teve importante participação: na definição do Mosteiro como um dos cinco Pólos de Educação Ambiental do Projeto Mata Atlântica no ES; na elaboração e implantação do Plano de Manejo e Recuperação de Áreas Degradadas; na elaboração e implantação do Plano de Ação do Pólo de Educação Ambiental; e na elaboração e encaminhamento de diversos projetos de captação de recursos.
Entre 1990 e 2004, atuou no Governo Municipal de Vitória, tendo se destacado como Assessora Técnica da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Vitória/SEMMAN e Administradora Regional em São Pedro. Coordenou a elaboração da Agenda 21 de Vitória, nas áreas de Meio Ambiente e Turismo, e participou de sua implantação. Foi participante do processo de criação e implantação de diversas Unidades Municipais de Conservação e de seus respectivos Planos de Manejo. Atuou na elaboração do Zoneamento Ambiental em âmbito municipal, na implantação do Código Municipal do Meio Ambiente de Vitória e na elaboração do Plano Estratégico 1996-2010/Vitória do Futuro.
A ativista da sociedade civil
No início da década de 1960, foi significativa a militância de Elizete no movimento estudantil universitário e na Juventude Universitária Católica/JUC.
Entre 1962 e 1963, recém formada e ainda muito jovem, atuou nos Estados do Maranhão e Pernambuco como técnica de extensão rural e militante do MEB/Movimento de Educação de Base.
Em 1996, entrou no IPEMA/Instituto de Pesquisa da Mata Atlântica, assumindo a sua Diretoria Administrativa até maio de 2001. E, em Julho do mesmo ano, passou a integrar o seu Conselho Fiscal, até julho de 2006. Foi Vice- Presidente do Conselho Deliberativo do IPEMA até maio de 2008 e, depois, Presidente até cinco de novembro de 2010, data do seu falecimento.
Foi Coordenadora Nacional da Rede de ONGs da Mata Atlântica, com poderes para representar a RMA/Rede Mata Atlântica e convocar e presidir o Conselho de Coordenação Nacional da RMA.
Teve importantes participações em diversos Conselhos e Associações. Foi membro da ANAMMA/Associação Nacional de Secretários Municipais de Meio Ambiente; do CONAMA/Conselho Nacional de Meio Ambiente; do Comitê da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica; do CONSEMA/Conselho Estadual do Meio Ambiente; e do CONDEMA /Conselho Municipal de Meio Ambiente. Coordenou, recentemente, um grupo multiprofissional e multiinstitucional, para criação do Mosaico do Manguezal da Baía de Vitória.
A família
Filha de Olavo Basílio Sherring e Estelita da Silva Sherring, teve duas irmãs Janete e Anete (falecida). Em 1968, em Vitória-ES, casou-se com Wantuil Siqueira e tiveram três filhas: Marcela, Daniela e Gisela e três netos: Sofia, Júlia e Enzo.
Elizete, por seus amigos.
Nos dias finais de sua vida, Elizete teve o conforto da presença, do apoio, da solidariedade e do afeto de inúmeros amigos. Após o seu falecimento, muitos enviaram depoimentos, testemunhando a importância de Elizete como mulher, mãe, profissional e amiga e destacando o seu coerente legado na defesa da vida, nas suas diversas manifestações. Tais depoimentos foram recolhidos, pelos familiares de Elizete, num pequeno livreto, do qual foram extraídos os seguintes testemunhos:
-"Nós, equipe do SOS Mata Atlântica, já enviamos as homenagens aos familiares, com profundo agradecimento pela grande contribuição que Elizete deixou para o país, para a sociedade, sempre firme na sua grande batalha em prol de um ambiente melhor e mais sustentável".
-"Tivemos a honra de ter em nossa equipe essa mulher de tanta garra e sabedoria. Elizete permanecerá nos inspirando para que possamos continuar nossa missão pela garantia dos direitos das crianças e adolescentes do semi-árido capixaba". Luciana Phebo, Chief Field Office, UNICEF/Rio de Janeiro, Brasil.
-"Em nome do Núcleo Mata Atlântica, do Ministério do Meio Ambiente, quero me juntar aos amigos e familiares e também prestar homenagem a esta grande amiga e guerreira da Mata Atlântica. Elizete nos deixa o legado da luta por todas as formas de vida e do bem comum e certamente continuará presente nas muitas sementes que plantou e cultivou." Wigold
-"Aproveito a oportunidade para sugerir a todos... que ela seja indicada para receber... o Prêmio Dom Luis Gonzaga Fernandes, por sua dedicação à conservação da natureza. É isso minha querida amiga Elizete, a gente se vê por aí um dia!" Edson Valpassos.
Pela presença marcante que Elizete teve na vida e nas lutas do Mosteiro Zen Morro da Vargem, parte de suas cinzas foram lá depositadas.