Irmã Andréia

Fala da Irmã Andréia, irmã de Dom Luis Gonzaga Fernandes

Por ocasião da entrega do Prêmio Dom Luis – Ano 2010 - 6ª Edição

Exmo. Senhor Governador do Estado do Espírito Santo

Dr. Paulo Hartung

Faz hoje seis anos que Dom Luis comemora -na eternidade - o seu aniversário. Faz seis anos que a cidade de Vitória comemora também sua data natalícia, com esta homenagem especial, batizando com seu nome uma premiação – que sintetiza todo o ideal de sua vida.

Com efeito, o prêmio Dom Luis Gonzaga Fernandes, criado pela lei estadual 7.844/04, na gestão do governador Paulo Hartung, é uma homenagem do Governo do Espírito Santo "a pessoas ou entidades que se destacaram na defesa e afirmação dos direitos da pessoa humana e que lutam por mais justiça, desenvolvimento social e trabalho para todos".

Esta diretriz pautou toda a sua vida episcopal, aqui - nesta cidade bonita - como também em Campina Grande, para onde partiu naquele mês de outubro de 1981, em obediência às determinações da igreja.

O afeto que ele conservou, durante a vida inteira, a esta sua "querida cidade de Vitória", como costumava chamar, prendia-se, acima de tudo, ao grande povo capixaba, que ele nunca esqueceu, porque deixou marcas indeléveis de um amor profundo em seu coração e em sua vida. E ele confirma esta amizade profunda, por ocasião da outorga que lhe fizeram, conferindo-lhe o título de cidadão de Vitória, quando relata algumas coincidências preciosas de sua vida "... Do Convento de São Francisco, em João Pessoa, passei para a Colina de São Francisco, nesta querida cidade de Vitória, por sinal, homônima da vilazinha sertaneja das minhas primeiras origens e andanças". De Vitória de Santo Antônio. ele veio pra Vitória do Espírito Santo.

E conclui essa página de evocações:

"... Assim se faz a história da gente, entre uma colina e outra colina, sob o patrocínio dos mesmos Franciscos e Antônios, peregrinando na terra dos homens, em busca de uma pátria final: na verdade, somos mesmo é "cidadãos do céu", ensaiando os passos eternos nesses mundos sublunares."

Com efeito, tinha ele essa vocação de pássaro, ora alçando voos de colina em colina, ora pairando sobre montanhas, às vezes em longas caminhadas, levando sua mensagem de amor e fé às comunidades esquecidas. Tanto assim, que veio terminar suas andanças, interromper seus voos, sobre o dorso azul do compartimento da Borborema, onde pousou tranquilo, para dormir o seu sono eterno.

Sobre a ação pastoral de Dom Luis, não me estenderei com delongas. Direi que sua preocupação permanente na defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana, do desenvolvimento social e do trabalho digno para todos, evidenciada aqui, em Vitória, continuaram com o mesmo destemor em Campina Grande, como pressupostos de honra, dos quais jamais se afastou.

Sua opção espontânea em prol dos pequeninos, dos desafortunados da sorte, dos desassistidos, foi o lema que caracterizou o seu empenho em favor da libertação e da vida, como bem salientou Leonardo Boff, em artigo memorável.

Sua determinação em transpor os limites de uma igreja específica, dando realce, por exemplo, à figura da mulher, na igreja e na sociedade, confiando-lhe encargos de liderança, descartada que era em funções meramente secundárias, como afirmava Dr. João Baptista Herkenhoff, este grande jurista capixaba, são exemplos de seu apostolado.

Sua atuação junto às comunidades rurais, as mais pobres e distantes, onde o pequeno, em sua presença, sempre teve vez e voz; suas grandes romarias que reuniam as comunidades da diocese de Campina Grande em grandes cortejos, na celebração da festa de Nossa Senhora da Conceição; os grandes encontros macroecumênicos que transpuseram barreiras nacionais e internacionais, transformando a cidade de Campina em um grande palco, onde todas as crenças se entrelaçavam, entoando o hino da cultura do amor e da paz. São fatos que Campina Grande pode testemunhar.

Junto ao altar de Santa Terezinha, na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, seu corpo foi colocado. Mas, ele, Luis, está aqui conosco, mesmo avesso a homenagens. Ele veio, sim, elevando aquela patena sagrada, onde colocou seu coração. Veio juntar-se aos seus amigos queridos, àqueles que ora são homenageados em seu nome, para lhes trazer o abraço eterno do Amor.

São tantos os amigos que ainda estão aqui, entre nós, que nem ouso citar-lhes os nomes, para não pecar por omissão. Sei que Cônego Alberto Fontana, Monsenhor Maurício, Dr. João Baptista, Dra. Vera Nacif, e tantos e tantos outros, que nem se encontram mais em nosso meio, a todos deixo o grande abraço que ele mandou dar.

Ao Exmo. Sr. Governador, Dr. Paulo Hartung, o anfitrião da efeméride, guardião desta memória, a gratidão maior dos familiares e amigos de dom Luis, presentes ou ausentes, que não tenho como agradecer ao seu gesto de grandeza, asseguro-lhe que guardarão para sempre a sua silhueta inconfundível em seus corações. Nosso profundo agradecimento ao Governador e ao povo capixaba!