João Batista Herkenhoff - Depoimento 3


Discurso do professor João Batista Herkenhoff na solenidade de entrega do Prêmio Dom Luis Gonzaga

Ano 2013 - 9ª Edição


Mais uma vez os companheiros da Comissão do Prêmio D. Luís Gonzaga Fernandes delegaram-me a tarefa de falar nesta solenidade.

Desta feita, pediram-me que falasse apenas sobre D. Luís e sobre o sentido do Prêmio D. Luís, ficando a cuidados de outros discorrerem sobre as cinco instituições premiadas nesta nona edição: a Comunidade Católica Epifania; o Banco de Leite Humano do Hospital da Polícia Militar do Espírito Santo; a Rede de Atendimento Integrado à Criança e ao Adolescente; a Associação Albergue Martin Lutero e a Associação Nova Esperança.

Falemos primeiramente sobre o Prêmio. Tem duas finalidades principais:
a) uma finalidade pedagógica, qual seja, a de destacar pessoas ou instituições cujo exemplo motive comportamentos, não apenas no seio da Igreja, mas dentro de toda a sociedade;
b) uma finalidade de fazer Justiça à memória de Dom Luís, pois a celebração do Prêmio reverencia o legado de sua vida, rememoração importante, sobretudo para as novas gerações que não o conheceram pessoalmente.

Em artigo publicado em A Gazeta escrevi: D. Luis compreendeu que o Bispo não é apenas um pastor local. É um peregrino e seu destino é caminhar. De um lado, vemos em D. Luís a figura de um homem ligado a seu tempo e preocupado com o destino do país, da América Latina, do mundo e, dentro do mundo, especialmente preocupado com os países pobres e os pobres dos países pobres. De outro lado, D. Luís mostrou-se sempre nordestino, com a fibra nordestina, capaz de vencer qualquer barreira, esperar qualquer espera, fiado não no provérbio popular (Deus tarda, mas não falha), porém num outro provérbio ainda mais rico de esperança (Deus nunca tarda, nós é que somos apressados).

O Brasil recebeu a visita do Papa Francisco. Ainda ecoam em nosso espírito suas mensagens, transmitidas não apenas através de palavras, mas, sobretudo através de atitudes.

Frei Leonardo Boff resumiu em sete pontos o testemunho do Papa Francisco na breve passagem pelo Brasil:
1) Revelou-se um humilde servidor da Fé, despojado de todo aparato; tocou e deixou-se tocar;
2) Tudo que falou, falou com sinceridade;
3) Evocou esperança e confiança no futuro;
4) Apresentou uma visão humanística da Economia e da Política;
5) Criticou com veemência o sistema financeiro que descarta os idosos, porque supostamente deixaram de produzir, e os jovens, porque ainda não produzem;
6) Propôs a humildade individual e social, qual seja a recusa da atitude de falar de cima para baixo, em qualquer situação;
7) Defendeu o diálogo, como mediação para os conflitos e exaltou a cultura do encontro.

Refleti que o Bispo Luís, no território diocesano, antecipou a mensagem universal do Papa Francisco, segundo a análise do grande teólogo Frei Leonardo Boff.

Vejamos, passo a passo, a correspondência, que me parece evidente, entre os pontos identificados por Frei Leonardo Boff, no magistério do Papa, e os pontos que podemos identificar na pedagogia do nosso Bispo Luís:
1) O Bispo Luís foi humilde servidor da Fé, despojado de todo aparato; nas comunidades eclesiais de base, que criou em Vitória e que se espalharam pelo Brasil e pelo mundo, tocou e deixou-se tocar;
2) não conhecia outra linguagem senão a do verbo sincero, a palavra segundo o pensamento;
3) mesmo nos momentos pessoais mais difíceis, como aqueles de sua partida de Vitória, manifestou esperança e confiança no futuro;
4) no livro “A palavra é filha do silêncio”, que reúne seus escritos esparsos, tem-se bem clara uma visão humanística da Economia e da Política;
5) no mesmo livro aparece nítida a condenação do sistema financeiro que descarta os idosos e os jovens;
6) o Bispo que homenageamos nesta solenidade nunca falou de cima para baixo, nunca foi autoritário mas, pelo contrário, cultivou a humildade pessoal e social;
7) através da palavra, através da ação Dom Luís ensinou e viveu a cultura do diálogo e do encontro.

Suponho ter conseguido estabelecer uma correlação entre a mensagem do Bispo Luís, endereçada à Igreja particular, e a mensagem do Papa Francisco, dirigida à Igreja universal. Se alcancei este desiderato, terei cumprido a missão a que me propus.